A Menina que enjoava de tudo

Você enjoa de tudo mesmo Marina! Ai meu Deus que eu não sei mais o que eu faço com você! Eu devia era lhe dar uma surra daquelas isso sim era o que eu devia fazer… A mãe esbravejava a arrastando-a pela mão. Mas ela se dava por satisfeita. Conhecendo o gênio da mãe tinha que dar graças aos seus dela não a estar arrastando pelos cabelos.

Com a mãe era como era antigamente… não tinha isso de lei da palmada, de ECA, de Juizado de menores… filha dela seguia a sua lei. Está debaixo do meu teto? Não importa quantos anos você tem se quatro ou se quarenta e quatro. Aqui quem manda sou eu! Aqui é o meu reino e você vai obedecer a tudo que eu disser. Caso esteja descontente com esse arranjo é simples, faça as malas e procure um lugar melhor para você!

Falando assim parecia que a mãe era uma bruxa, uma megera. Mas não… ela era muito amável, paciente, uma leoa, capaz de tudo pela família. Mas era muito justa, muito correta. Entretanto não havia nuances de cinza na sua concepção de mundo. Era tudo muito preto e branco. Não havia espaço para confusões e dúvidas. Com ela você tinha que saber realmente o que queria. E Marina não era assim decidida como a mãe.

Ai Marina vc é cheia de entre-tantos e pormenores… se decide menina. Se avie!!! Decidir não era fácil… mas não era a maior dificuldade de Marina. A mãe era definitiva. Quase nunca mudava de ideia. Marina era inconstante. Decidir, ela até se decidia… a parte dura era manter a convicção que a escolha que fizera era a correta. E se a outra opção tivesse sido melhor???

Sabe qual é seu problema Marina, não importa se você esteja comendo filé mignon, você vai sempre achar que o ovo frito da mesa ao lado é melhor, cheira melhor, tem gosto melhor… Aprenda uma coisa minha filha, a grama do vizinho nem sempre é mais verde. A gente só acha que é mais verde porque ficamos prestando atenção demais nela e esquecemos de regar a nossa.

Desta vez a mãe estava zangada porque ela enjoara de um vestido lindo que a mãe comprara para ela não tinha nem um mês. Na loja ele era tão lindo… todo preto, longo, até o tornozelo, agarrava nas curvas dos 16 anos da menina, e tinha desenhos grandes, contrastantes de rosas com folhas douradas e pétalas vermelhas como sangue. Marina tinha usado o vestido duas vezes… e agora ele estava pendurado lá… largado, esquecido, rejeitado e… Marina queria um vestido novo.

Onde já se viu vestido novo. Este vestido está novinho. Disse a mãe tirando o malfadado objeto do guarda-roupas e largando a mão da filha. Olha só, novinho e lindo. Achei que você tinha gostado dele. Parece vestido de velha… reclamou Marina. Não é vestido de velha menina tonta. Quem disse pra você que é vestido de velha? Vê se uma velha tem silhueta pra caber num vestido apertado desse? Mas a estampa é de velha… insistiu Marina abusando da sorte.

Você não achava que era estampa de velha há um mês. Tornou a mãe desta vez com aquele tom de quem já estava perdendo a paciência. Marina resolveu não arriscar mais, baixou a cabeça e ficou em silêncio por alguns segundos. Depois soltou um… Tá bom… bem tímido.

Marina no fundo sabia que a mãe tinha razão. Sabia que ela… Marina, enjoava fácil das coisas. Ela só queria um vestido novo porque todas as amigas iam ter vestidos novinhos para ir na quermesse da igreja. E ela iria com aquele que já havia sido visto na misso algumas vezes. E ela era assim com tudo, com os brinquedos com as coisas que inventava… nunca terminava nada que começava. Enjoava antes de terminar e acabava largando de lado.

Sabia que a mãe ralava pra caramba para dar as coisas para ela. Sabia o quanto ela trabalhava e quantas vezes ela deixava de comprar alguma coisa para si para dar o melhor que podia para a filha. Sabia que o vestido estava novinho. Olhou para ele… esticado em cima da cama… Desculpa mãe… disse olhando para os sapatos. Eu não preciso mesmo de um vestido novo para a quermesse. Este está bom. A mãe olhou ela de lado… apanhou o vestido. Muito bem, eu vou lavar ele e no sábado ele vai estar limpinho. Você vai ficar linda vc vai ver… deu um meio sorriso e saiu. Marina sorriu por dentro… o importante realmente nem era a quermesse, nem era os amigos… o importante era a mãe estar feliz. Orgulhosa dela.

A semana passou… Marina foi para a escola, fez os deveres… ela e a mãe conversaram… E o sábado finalmente chegou. E quando chegou… ela acordou cedo. Fez todas as tarefas e se animou pra noite de festa. Quando a hora foi chegando… mãe gritou da cozinha. Marina, vá tomar um banho e se arrumar, daqui meia hora saímos e eu não vou ficar esperando você. Correu… tomou um banho rápido de chuveiro e quando estava entrando no quarto a voz a mãe novamente. Seu vestido está pendurado na porta do guarda-roupas.

Entrou no quarto, abriu o guarda-roupas e … deu de cara com um vestido novinho… Não o preto, com desenhos de rosas. Um caqui com bolsos e cinto que estava paquerando fazia tempo na loja favorita. Ficou cinco minutos olhando pro vestido. Ouviu a voz da mãe novamente…

Você é uma boa filha, achei que precisava mesmo de mais um vestido. Virou-se, a mãe estava apoiada no batente da porta sorrindo pra ela com orgulho. Sorriu de volta, aquele sorriso que não cabia no rosto de tão aberto. Abraçou a mãe e correu colocar o vestido novo.

Fim.

Ramiro

Ramiro estava faminto novamente. Não que isto fosse novidade… quando se mora na rua, quando não se tem um emprego decente nem dignidade… vagando pelas ruas. Apenas mais um mendigo virando latas de lixo no meio da rua. Mais uma pessoa invisível. As pessoas das cidades grandes só te enxergam se você os está atrapalhando com a sua mera existência.

Ramiro remexia na lata, nos sacos de lixo mais uma vez. Procurando alguma coisa de valor. Talvez encontrasse algo que pudesse vender, uma parte iria usar para comprar alguma coisa para comer. Estava mesmo com muita fome, uma fome danada que uma garrafa de pinga nao iria conseguir afogar na noite que chegava. Infelizmente a pinga era mais barata que a comida.

No inverno passado ele assistira dois outros moradores de rua brigarem por uma garrafa de plástico com um pouco de aguardente dentro. Era uma noite fria, ele entendia o porque da briga. A aguardente serviria para manter um dos dois, provavelmente o vencedor da pífia batalha, aquecido na garoa, no inverno da noite paulistana. 

Ramiro olhava ao redor, estava feliz porque não era inverno, gostava mais do verão, quando não chovia claro. Não tinha que se preocupar muito em encontrar um lugar quente para passar a noite. Poderia dormir na liberdade das ruas sem se preocupar em morrer congelado enquanto dormia. Em ocasiões anteriores fora parar no hospital por hipotermia. Não era uma coisa legal.

Um casal passou por ele enquanto remexia no lixo… A mulher se encolheu, o rapaz a abraçou com mais firmeza e torceu o nariz. Ramiro teve raiva e vergonha ao mesmo tempo. Raiva porque ele não era um bandido, não iria assaltar aquelas pessoas. Vergonha porque não tomava um banho há muito tempo e sabia que estava cheirando mal. Apesar de que sei nariz já se acostumara com o fedor… Sabia que com as demais pessoas era diferente. E com o calor do verão, o suor de andar pelas ruas o dia todo debaixo do sol causticante… A situação era ainda mais crítica.

Talvez não fosse passar a noite na rua hoje apesar do calor do verão… Talvez conseguisse alguma coisa para comer e com certeza ia poder tomar um banho e se livrar do mau cheiro… Talvez colocar umas roupas limpas. A ideia lhe parecia tentadora naquele instante.

Juntou uma boa quantidade de latas, avaliou mentalmente quanto de dinheiro conseguiria por elas e resolveu que era hora de ir até o ferro velho vendê-las e depois iria para o abrigo. Era verão… O local estaria vazio. Pelo menos ele esperava que estivesse. Juntou o resto dos seus sacos com todos os recicláveis que ele tinha conseguido juntar e resolveu tomar seu rumo. O dia está chegando ao final. Um dia a menos neste mundo cruel.

Fim

A menina de nome feio…

Primeiro dia de aula, primeira chamada… As outras crianças riram quando a professora disse o nome dela… Foi a primeira vez na sua vida que ela reparou que seu nome era feio. Nunca antes em casa com sua família ela tinha reparado nisso. Por que eu tenho esse nome  mamãe ? Ela um dia perguntou. Foi seu pai quem escolheu num livro de nomes para crianças. E com tantos nomes ele tinha que escolher justo este?

Conforme foi crescendo ela começou a pesquisar sobre o nome… Era uma história bonita, o significado do nome era bonito. Mas o nome continuava sendo feio, estranho. Com uma sonoridade alienígena. Nada semelhante à qualquer outro nome que você ouve todos os dias nos lugares comuns. Não conhecera ainda uma pessoa sequer… Uma pessoa de verdade, assim cara a cara que tivesse o mesmo nome que ela.

Passou toda a infância tendo que aturar piadinhas com seu nome, crianças sabem ser cruéis isso não é novidade. E foi aos poucos se acostumando a sonoridade estrangeira do nome. Começou a ver uma certa graça nas situações cotidianas onde as pessoas não entendiam ou não conseguiam pronunciar seu nome. Fazia apostas mentais consigo mesma, quantas vezes vou ter que repetir o nome até que a pessoa acertasse… Estabeleceu a média de quatro, geralmente tinha que repetir o nome entre três e quatro vezes até que a pessoa entendesse seu nome. Pessoas que entendiam logo de primeira subia em seu conceito.

Quando a adolescência foi embora e com ela aquela veemente necessidade de ser igual às outras pessoas, de se ajustar. O nome diferente deixou de ser tão incômodo. No começo da vida adulta, na verdade o nome diferente começou a ser uma vantagem. Não teria com certeza os problemas das Marias, das Anas, Paulas e Franciscas… Nada de homônimos. Achou legal então… Era legal ser diferente e ter um nome singular era parte disso. Começava por ali… Ser diferente começava em ter aquele nome diferente. Era sempre um bom início de conversa… Era sempre uma curiosidade contar para um novo amigo o que queria dizer aquele nome tão ímpar.

Começou a ver vantagens em ter o nome diferente. Começou a gostar mesmo. Na adolescência tinha jurado que iria trocar de nome quando ficasse mais velha. Masss… Agora a ideia já não lhe era mais tão atraente. Aliás muito pelo contrário. Começou a trabalhar e achou extremamente útil ter aquele nome. As pessoas raramente conseguiam se lembrar dele. Tinham que anotar em algum lugar para lembrar. E geralmente anotavam em papéis que depois perdiam. Era engraçado ver as pessoas batalhando para conseguirem se lembrar, qual era mesmo o nome da moça???? Começou a gostar do nome… Ele até que não era feio, na verdade ele era engraçadinho até…

Demorou muito e muitos anos, muitas e muitas décadas até ela é seu nome fazerem as pazes, mas estavam bem um com o outro agora… Ouviu mais uma vez alguém chamar seu nome… Era a milésima vez aquela tarde. Sorriu… É… Não era um nome tão feio assim.

Fim.

A Menina Sem Sobrancelhas…

Olhou para o espelho mais uma vez. Seu rosto ficava estranho sem as sobrancelhas. Engraçado como não se da valor as sobrancelhas até que elas tenham sumido da sua cara. Dois tracinhos formados por um acumulado de pelos no meio da sua testa… que vc raramente presta muita atenção.

Cientificamente falando as sobrancelhas serviam, ela leu isto em algum lugar mas que agora não se lembrava exatamente onde, para aparar o suor que escorria pela testa dos homens pré históricos durante suas caçadas. Ela se lembra de ter pensado… ora, se essa era a utilidade delas… agora já não são mais tão necessárias. Mas agora que tinha perdido as suas… elas pareciam extremamente importantes.

Sobrancelhas eram interessantes, enfeitavam seu rosto, faziam companhia aos olhos. Ajudavam a formar as expressões… como aquela levantada ligeira de sobrancelha que sua mãe lhe enviava quando ela estava fazendo peraltices. Sobrancelhas eram importantes… ela decidiu. Suas sobrancelhas vão voltar, lhe disseram, isto é temporário… Mas quão temporário? Quanto tempo elas demorariam a crescer novamente?

Definitivamente seu rosto ficava estranho estranho sem sobrancelhas… talvez o rosto de todas as pessoas ficavam estranhos sem sobrancelhas. Um rosto sem sobrancelhas era um rosto com as expressões doentes. Ela reparara outra noite no hospital como pessoas portando a mesma doença acabavam tendo a mesma expressão em seus rostos. Como se a doença fosse uma marca qualquer que os distinguia das outras pessoas. Ela sempre se perguntou se isto ocorreria por conta de alguma característica genética, como determinada doença afeta determinadas partes do corpo humano, talvez este ataque deixassem marcas semelhantes em seus doentes. Como as marcas registradas, a assinatura, de um serial Killer em suas vítimas.

Caminhando pela ala de oncologia do hospital era via a mesma expressão, os mesmos rostos sem sobrancelhas em tantos outros humanos… Caminhando por outras alas ela vira a mesma coisa, a mesma doença, fosse qual fosse, igualava as pessoas… Cor, crença, classe social… Nada mais os diferenciava quando a doença se abatia sobre eles da mesma forma e os nivelava através da dor, do desespero e do medo. Todas aquelas pessoas da ala oncológica agora eram seus semelhantes duplamente, seres da mesma espécie é que estavam sofrendo o mesmo vitupério que ela. Assim como tornava iguais às famílias que acompanhavam seus familiares enfermos. Todos com a mesma expressão de dor velada, esperança forçada, preocupação e medo.

Olhou mais uma vez sua imagem refletida no espelho, pele cinzenta por causa da medicação, cabeça sem cabelos, olhos aparentemente maiores… Talvez por falta das sobrancelhas, ela não poderia dizer com certeza. A única certeza que possuía no momento era que a falta das sobrancelhas certamente a incomodava mais que a falta dos cabelos. Para a falta dos cabelos ainda existiam perucas… Infelizmente não existia peruca para sobrancelhas… Existia maquiagem claro, mas ainda assim seria estranho desenhar uma sobrancelha satisfatoriamente bem para ficar temporariamente no lugar das desaparecidas. Não seria?

Abriu a gaveta da penteadeira… Maquiagem… Hum… Fazia já um tempo que a mãe não se importava dela mexer na gaveta das maquiagens, nos batons caros e tudo mais. Bom, não custava nada arriscar certo? Separou cuidadosamente os elementos que achou que precisaria, que seriam adequados para a tarefa e os alinhou na penteadeira. Olhou pausadamente para cada um deles. Depois encarou longamente seu rosto novamente… Tentando se lembrar como eram as sobrancelhas originais, e calculava… Serei capaz de recria-las? Ou deveria inovar, aproveitar a oportunidade e criar algo novo, original? Como se de um instante para o outro seu rosto houvesse se tornado uma tela em branco onde ela, simplesmente desenhando duas linhas entre os olhos e a testa, poderia criar para si uma nova imagem. Uma nova pessoa…

Sobrancelhas pareciam extremamente importantes neste momento… Mas ela hesitava. Seria capaz? Conseguiria atingir um resultado feliz? Suspirou, estendeu a mão e apanhou o pincel… Antes porém de erguer a mão e levá-la ao rosto, sentiu a mão maior, mais enrugada e calejada, mas ainda assim tão bela e delicada, com as unhas longas e bem cuidadas como sempre da mãe cobrir a sua. Olhou por sobre o ombro, os olhares se cruzaram e a mãe sorriu confiante. Vai ficar ótimo, faremos juntas! Disse com a voz firme de quem sabia o que estava falando.

Sorriu de volta e pensou… Sim, ia dar certo, tudo daria certo no final. Tudo sairia perfeito. Sobrancelhas afinal, eram muito importantes.

Fim

Fique longe das pessoas amargas minha filha…

Conselho de mãe é coisa a ser levada a sério. Sempre! Mãe é um ser extraterrestre que foi escolhida por seres supremos e extremamente, superiores e ultra desenvolvidos para lhe dar avisos de catástrofes iminentes… e conselhos claro, que você, querendo ou não, vai carregar consigo a vida inteira. E que um dia quando, numa esquina dos seus dias, esbarrar com uma situação espantosa qualquer vai te fazer pensar ‘ah então era disto que minha mãe falava’.Eu lembro-me de tantos dos que a minha mãe me deu.

Lembrança de estar sentada, com as minhas tranças, meu uniforme do colégio, os pés mal tocando o chão, ouvindo-a destilar sua sabedoria. E eram conselhos sobre os mais variados temas… sobre tudo, sobre todas as coisas.

Um dia ela me falou sobre as pessoas amargas. Éramos só nos duas, muitos dias, muitas horas do dia, ela me ouvia enquanto eu pacientemente contava pra ela meu dia na escola. E quase sempre, algum acontecimento do dia ganhava uma lição para a vida.

Preste atenção, uma vez ela disse, você esta vendo aquela mulher? Olhe bem pra ela… e uma mulher de certa idade já… mas você olhando para ela da pra ver como um dia ela foi uma moça muito muito bonita. Da baixa estatura dos meus nove anos de idade eu olhei para a tal mulher e não consegui ver nada além da carranca retorcida. Não consegui enxergar a beleza que ali outrora morava… Cara de quem estava com uma dor de barriga imensa, eu me lembro de ter pensado. Mas a cara dela estava sempre assim… retorcida, eu me lembro que ate mesmo seu sorrido parecia deformado pelo que estava no fundo dos olhos dela… e que eu na época não sabia exatamente definir o que era.

Eu não vejo como ela pode um dia ter sido uma moca bonita mãe. Eu disse. Minha mãe apenas sorriu. Aquele sorriso dela que queria dizer tanta coisa. Você diz isso porque você enxerga o mundo com olhos puros. Mas, infelizmente, um dia você vai entender o que eu estou te dizendo… um dia.

Então ela continuou… Ela já foi uma moça muito bonita no passado. Mas agora ela não passa de uma pessoa amarga. Que só consegue prestar mais atenção na vida das outras pessoas e de como essas outras pessoas são mais felizes que ela. E enquanto ela perde tempo invejando a felicidade das outras pessoas ela fica cada vez mais amarga.

Ele deve ter visto o ponto de interrogação desenhado na minha testa. Naquela idade eu não conseguia entender exatamente o que era uma pessoa amarga. Uma pessoa amarga, continuava ela, é uma pessoa que parou de viver a própria vida, para ficar apenas observando e invejando a vida dos outros. Eu fico triste por elas, eu disse. E depois de pensar um pouco: Por que ela simplesmente não vai viver a vida dela? Eu lembro de ter perguntado. Ela não seria mais feliz assim? Talvez… mas ela não enxerga as coisas assim.

Minha mãe ainda me disse que a pessoa as vezes nem percebia que estava fazendo isso. Que este tipo de gente fica prestando tanta atenção no que as outras tinham, no que as outras faziam, ou no que não faziam, nos amigos que ela fazia, na família que elas haviam constituído, nos presentes que elas ganhavam no amigo secreto no final de ano e até  mesmo nas coisas que elas comiam. Que não se esqueciam de viver as próprias vidas.

Então eu perguntei para a minha mãe como elas se tornaram dessa forma e minha mãe me disse que ela não sabia bem, mas que a grande maioria tinha se esquecido de sonhar, talvez num momento qualquer da vida delas, alguma coisa deu errado, seus planos não se concretizaram e elas perderam as esperanças de serem felizes e começaram a se perguntar. Porque fulano tem isso e eu não? Porque eles sorriem enquanto eu estou triste? Se perdem nas comparações…

Fique longe dessas pessoas minha filha. Ela avisou. Você vai encontrar muitas delas pela vida afora. Nos seus amigos, nos seus colegas de escola, nos seus companheiros no trabalho e em toda a sorte de gente que você tiver que lidar no dia a dia. Mas fique longe delas… não as tome como exemplo e acima de tudo. Não se torne uma delas. É bem fácil nos deixarmos levar por sentimentos mesquinhos. Fácil sentirmos inveja da felicidade das pessoas. Fácil nos perdemos nos tropeços do caminho e nos enroscarmos nas tristezas. Mas o caminho fácil nunca é o mais correto não é mesmo? Ela me perguntou eu eu silenciosamente concordei com um movimento de cabeça. Difícil é ficar feliz com a felicidade alheia, sem inveja-la, sem querer igual, sem querer tomar nada dos outros. Difícil é não se esquecer de correr atrás dos nossos sonhos. Difícil é vivermos as nossas vidas.

E como a gente faz pra não ficar assim? Amargo? A idade das perguntas mil… A gente não deixa os sonhos para lá. E tenta não se esquecer de viver. E não podemos ficar comparando as nossas vidas com as das outras pessoas. E a gente fica feliz com a felicidade das outras pessoas. A gente fica feliz junto. Disse ela sorrindo de novo. Então eu percebi que a minha mãe tinha conseguido… ela não tinha ficado amarga. Como ela tinha conseguido??? Hoje eu me pergunto. Talvez ela tivesse realizado os sonhos dela, talvez ela sorrisse tanto que amargor nenhum fosse capaz de se juntar dentro dela. Talvez esse fosse o segredo. Ficar verdadeiramente feliz junto com as pessoas.

Minha mãe tinha razão, eu já cruzei com centenas de pessoas assim na vida. Uma coisa não mudou. Eu ainda fico triste por elas. Infelizmente não pude seguir ao pé da letra o conselho da minha mãe e ficar longe dessas pessoas… porque esse tipo de pessoa simplesmente despenca na sua vida de vez em quando e vc é obrigada a conviver com elas. No condomínio, no trânsito, na feira-livre, no caixa do supermercado, na escola, no trabalho… E infelizmente a amargura delas as vezes suga a sua alegria. Te deixa mal humorado. Irritado. Com raiva mesmo. Acho que é assim que elas contagiam as outras pessoas é que o amargor se espalha pelo mundo e pelos corações.

Mas eu descobri também que existem pessoas que são como girassóis… que estão sempre sorrindo. Mesmo com suas vidas nubladas, mesmo com as folhas meio queimadas, meio secas, meio murchas. Minha mãe não era um girassol… ela era uma plantação inteira deles. Acho até que ela era o sol que emprestou o nome a flor. E eu encontrei muitos girassóis nessa vida também. E eu me cerquei deles… porque assim a gente também evita de ficar amargo, nos cercando de sorrisos, de doçura, ficando feliz junto. Nem sempre e fácil. Mas… no final das contas vale muito a pena.

Fim

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Apresentação

Fala galera, beleza?

Se você está aqui neste Blogue agora é porque provavelmente conhece o meu outro blogue – Diário de Bordo da Shao – onde eu posto sobre meu dia a dia, coisas que eu curto e um monte de blábláblás. Este aqui é um novo projeto que… depois de quase um ano postagens consecutivas no blogue anterior eu tive coragem de encarar.

Toda a sexta-feira vai ter um texto novo, de minha autoria, por aqui. E no final de seis meses (ou um ano, não sei ao certo ainda… vai depender do andar da carruagem e dos textos que forem fluindo) eu pretendo mandar publicar meu segundo livro.

Os textos vão ficar aqui expostos apenas por esse período de tempo, depois eles devem ser retirados, quando fora a hora de serem publicados eu obrigatoriamente tenho que tira-los do ar. Mas… assim que eles forem pulicados, os livros vão vir com um código promocional para quem comprar poder acessar e baixar histórias extras que não devem ser publicadas no blogue.

Espero que vcs curtam este pequeno canto da Internet… deixem comentários, é sempre legal ouvir a opinião de vcs. Se gostarem das histórias curtam, compartilhem nas redes sociais. Vejam também meu livro de poemas que está disponível para venda. E se não quiser perder as novas postagens que (repetindo) vão ser publicadas todas as sextas-feiras… Fiquem atentos às redes sociais, que sempre vão estar sendo postadas os novos textos. Eu espero ver vcs por aí.

Abraços…

Shao