O Menino a Loucura e a possessão (Parte IV)

Paulo acordou gritando… um grito aterrorizante. Os lençóis da cama todos revirados, encharcados de suor, todo o seu corpo doía… desde o seu encontro com a ‘criatura’ não conseguia mais dormir… duas semanas sem dormir. Como médico ele sabia o mal que isso estava fazendo à sua saúde. Não queria sequer pensar no que isso poderia causar à sua carreira.

Correu os dedos pelos cabelos molhados e resolveu levantar-se. Foi até a cozinha, tomou um copo d’água. Caminhou até a sala, pegou o telefone, discou o numero… esteja em casa, esteja acordada, desejou ele… o telefone tocou, uma, duas, três vezes:

– Alô? – respondeu uma voz entediada.

– Ah, que bom, você não está dormindo. Preciso tanto falar com você…

– Você é quem deveria estar dormindo meu caro. Não tem plantão hoje à noite?

– Sim, mas… não sei se vou trabalhar hoje. As coisas ainda estão muito confusas na minha cabeça e… é sobre isso que eu queria falar com você.

– Sou toda ouvidos.

– Preciso te perguntar uma coisa. Você acredita em Deus… diabo… espíritos… essas coisas?

– Eu acredito no mundo espiritual sim, como dizia Shakespeare… existem mais mistérios entre o céu e a terra que sonha nossa vã filosofia.

– E se… aquilo que eu vi… eu não sei exatamente o que eu vi naquela noite Estela, mas… e se o que eu vi… e se… for… uma coisa… – ele suspirou, não conseguia terminar a frase. Soava ridículo até mesmo para seus ouvidos.- E se o meu paciente não estiver doente? E se ele estiver falando a verdade? E se ele não sofre de esquizofrenia? E se o que ele diz é verdade? Se ele estiver sendo atormentado por… entidades espirituais malignas??

– Eu não sabia que você acreditava no mundo espiritual ? – E eu não acredito… nunca acreditei, você sabe disso… é que… eu não sei. Só não consigo explicar racionalmente tudo o que aconteceu comigo naquela noite…

– Você não me disse exatamente o que aconteceu naquela noite Paulo.

– Eu não  sei se quero falar sobre aquela noite. E-eu… não sei ao certo o que aconteceu. É algo… eu não sei se… consigo processar racionalmente o que aconteceu.

– O caso desse rapaz, ao que me parece, te abalou bastante.

– Eu não diria tanto… era um caso bem simples na verdade. Verdade seja dita, o paciente já passou por diversos hospitais, diversos profissionais e diversos tratamentos…

– Sem nenhuma melhora eu presumo.

– Altos e baixos… o que não é de se estranhar no caso dele. É até bastante esperado que ele resista ao tratamento, já que na cabeça dele,  ele não está doente e sim sobre a influência de algo… maligno.

– E o que aconteceu naquela noite colocou um ponto de interrogação na sua cabeça sobre… a existência… do mal… de algo maligno influenciando este rapaz…

– Eu sinceramente não sei… Talvez eu, precise de uma segunda opinião… Talvez uma junta médica… – ele falava com ela, mas soava como se falasse consigo mesmo, ponderando a possibilidade.

– Seria adequado.

– Sim, sim… seria… você tem toda a razão.

– Sente-se melhor agora???

– Sim, sempre sinto-me melhor quando falo com você. E você sabe disso, não sabe?

– Não, eu não sabia… Mas fico feliz de saber. Agora vê se come alguma coisa leve e tente dormir está bem?

– Está bem.- desligou o telefone com um sorriso no rosto. Estava mais calmo agora. Não completamente calmo, mas… um tanto mais calmo. Só ficaria completamente calmo quando tirasse da cabeça aquela imagem. Não queria achar que estava tendo alucinações.

Continua numa próxima postagem qualquer…

O Menino, a Loucura e a possessão (Parte III)

Ele estava cansado… Não sabia dizer quanto tempo se passara desde a última vez que ficara consciente. Se lembrava dos sonhos entretanto, dos pesadelos para ser mais específico.

A garganta doía… como se tivesse gritado por dias e dias… e ele estava com o rosto e os braços e o torço machucados… marcas horríveis e sangrentas eque pareciam ser de… arranhões. Ergueu as mãos que pareciam pertencer a um ancião… magras, enrugadas, pálidas, trêmulas…

“Olá, Artur.” um homem alto vestido de branco entrou onde ele estava, olhou ao redor, supôs que fosse um consultório. “Eu sou o seu médico… meu nome é Paulo.” – disse olhando fixamente para ele. Então este deve ser meu médico… pensou… mais um médico, que diferença isso vai fazer. “Depois de avaliar seu caso com cuidado eu achei melhor nós mudarmos um pouquinho o seu tratamento… espero ter resultados melhores assim…” sorriu.

Já passei por tantos ‘métodos de tratamento’. Queria dizer para o jovem médico que não faria diferença. Como explicar para um homem da ciência que ele não era louco? Quantas vezes já havia tentado… perdera a conta. “você está entendendo o que eu estou dizendo Artur?”. Abriu a boca para falar mas não saiu som nenhum… garganta muito seca, os lábios rachados…”A… A-a-água…” conseguiu falar, num som estrangulado. “Ahh sim… claro!” – encheu uma caneca de plástico de água que eu engoli rápido e me engasguei… “Vá com calma…” tomei toda a caneca. “M-m-mais…” ele me serviu outra caneca, mais outra quando eu pedi mais. “Melhor agora?” ele perguntou com um sorriso. Eu balancei a cabeça afirmativamente.

O que era ‘estar melhor’ na concepção dele? Eu não sabia o que era estar bem há tanto tempo. Pequenas coisas, como uma caneca de água fresca me pareciam coisas luxuosas. “Há quanto tempo estou aqui?” a pergunta saiu antes que eu pensasse direito nela, mas a voz saiu estranha… mal reconheci minha própria voz, minhas cordas vocais deviam estar piores do que eu imaginava.

“Há três meses… Seus pais o transferiram para cá porque acreditam que aqui você terá um tratamento melhor. Temos os melhores equipamentos, temos os melhores médicas e técnicas inovadoras…” ele ficou ouvindo o médico falando de coisas que não o interessavam.”Eles, não vieram… me ver??” perguntei interrompendo a falação dele. “Eles vieram há umas semanas mas você estava sedado… aconselhamos aos seus familiares a não fazerem visitas por enquanto, nesse período de adaptação.” Eu fiz apenas que sim com a cabeça… já imaginava isso. Não era a primeira vez que meus pais me mudavam de clínica. O que me espantava era eles ainda não terem desistido de mim…

Esse pensamento fez meus olhos se encherem de lágrimas. Eu que achei que não tinha mais lágrimas para chorar. Eles podiam simplesmente me largar neste lugar e simplesmente se darem por satisfeitos de não ter mais que lidar com aquele horror… mas não, eles ainda tentavam me ajudar… do modo deles claro. Eles não tinham ideia do quanto isto era importante para mim. “Não fique triste, você poderá ver seus familiares em breve. Estou certo disso.” disse com um sorriso apaziguador.

“Eu não sou louco doutor…” minha voz soou fracamente.”Claro que não. Não chamamos ninguém de louco aqui…” disse ele condescendente.”O senhor acredita no mal doutor?” eu ouvi minha própria voz ganhando forças, juntamente com meu medo. Mas meu medo não era, naquele momento, maior que a minha fúria, nem que a minha vontade de ser ouvido. “Acredita em demônios? Acredita no diabo?”.

O médico ficou um longo tempo me olhando…”Respeito todas as crenças. Mas como um homem da ciência devo dizer que sou bem cético quanto à existência de um… mundo espiritual.” Assenti lentamente… sentindo a raiva se transformar num misto de tristeza e angústia. “Então, o senhor não pode me ajudar doutor. Eu não sou doente… eu não sou louco. E-eu preciso de ajuda… mas n-não de ajuda médica.” eu já não conseguia impedir que as lágrimas corressem livremente pelo meu rosto, eu não sabia quanto tempo eu tinha ainda para tentar falar com aquele médico… esperando alguma humanidade, alguma piedade dele.

“E-eu preciso de um padre, u-um pastor, u-m rabino, um feiticeiro… um sacerdote de alguma espécie… alguém que acredite em mim e que me ajude. Que me liberte dessa coisa que me atormenta.” o médico sentou-se muito calmamente e ainda observando-o perguntou. “E o que é essa coisa que te atormenta?”.

“E-eu… n-não… n-não quero falar s-sobre isso… n-não quero, p-por favor.” novamente aquela sensação horrenda de não estar mais só entro do próprio corpo se apossava dele… seu tempo estava se esgotando. “Por favor doutor… ” ele se apressou em falar, as palavras se enroscando umas nas outras. “Por favor, não precisa acreditar em mim, apenas encontre uma pessoa que possa me ajudar, por favor eu imploro. Eu não tenho mais tempo… eu… não…” calou-se. De novo aquela sensação. Ele era apenas um espectador… ele podia ver tudo o que acontecia como quem assistia um filme. Incapaz entretanto de interagir.

O médico assistiu a transformação do paciente diante dos seus olhos. Num instante ele pareceu triste, de uma maneira quase trágica e então desesperado, apressado em dizer alguma coisa e então… com medo? Pânico! E então ele parou de falar, os olhos ficaram vazios e então as pupilas se dilataram… e ele cruzou as pernas, recostou-se na cadeira, as mãos postas sobre as coxas e sorriu. Um sorriso de desdém, um sorriso quase… malvado. Olhou o médico bem nos olhos e não disse mais nada.

O jovem médico então “Olha Arthur, eu sei que é algo complicado de lhe pedir, mas eu preciso que confie em mim. Vamos começar do zero certo? Eu eu tenho muita confiança que esse novo tratamento vai ajudar você. Você me disse que precisa de ajuda e é isso que eu estou fazendo… Mas, você precisa confiar em mim ok?”

O rapaz sentado então emitiu uma risada sinistra. “Ahhhh… a humanidade.” disse com voz rouca rindo novamente. Era um som acre, agoniante. O médico não sabia exatamente explicar porque, mas o incomodava aquele riso. E o tom da voz ligeiramente diferente… como se ecoasse… em algum outro lugar. “Não pode ajudá-lo… Ninguém pode… ele é meu. E vai se meu… PRA SEMPRE!”. Então todos os vidros do consultório, mais os vidros do corredor estilhaçaram-se em incontáveis pedacinhos… até mesmo as lentes dos óculos do médico… elas caíram espatifadas aos seus pés… ele olhou para baixo a tempo de vê-las caindo.. os tímpanos zunindo de leve pelo barulhão. 

Quando tudo novamente era silêncio… ele ergueu novamente os olhos para o paciente, que agora não estava mais sentado na cadeira, mas em pé bem na sua frente… os olhos negros… o sorriso animalesco de soslaio… “Como… um homem da ciência explica isso??? Hum?” a voz horrenda fez um arrepio correr-lhe pela espinha…

Do lado de fora no corredor os enfermeiros se recuperavam do susto… “Meu Deus do céu o que foi isso??” alguém perguntou. “Estão todos bem??? Alguém se machucou?” outra pessoa perguntou. O enfermeiro e a enfermeira que haviam há algumas noites presenciado o grito do paciente, que agora estava com Doutor Paulo dentro do consultório se entreolharam. Ele fez o sinal da cruz três vezes… “Cada dia que passa esse lugar está mais estranho…” disse ele olhando para ela. “Se eu não precisasse tanto do emprego eu vou te contar viu…” Ela abriu a boca para dizer algo mas foi interrompida quando de dentro da sala todos puderam ouvir  a voz do médico… “Ahhhhh meu Deus… Não!!! Não!!! NÃOOOOOOOO!!!

Continua…

O menino, a loucura e a possessão (Parte II)

A enfermeira estava impaciente enquanto o médico examinava o paciente atentamente. “Eu não vejo nada de anormal”. “Eu juro para o senhor que quando eu sai do quarto ele estava apagado, e então ele gritou… um grito horrendo, como eu nunca ouvi antes doutor, não era para ele estar gritando com tanto anestésico nele. Chega a me dar calafrios lembrar do grito…” O médico continuava examinando o rapaz. “Pode ter sido outro paciente…”. “Só existe ele nesta ala doutor”. “Este hospital é muito grande… pode ser apenas um eco… de uma outra ala”.

Ela apenas olhou para o médico… “E como o senhor explica o que eu e o outro enfermeiro vimos quando chegamos aqui? Ele estava se debatendo. Veja os braços dele, ele se contorceu de uma forma… como ele conseguiu se contorcer daquela forma e se arranhar todo deste jeito? Não era humano…” acrescentou num tom muito baixo, e fez uma oração em silêncio… Primeira vez em não sabia quantos anos que ela buscava alguma proteção divina. “O outro enfermeiro sequer quer voltar a trabalhar neste hospital. Pediu demissão!”. O médico deu de ombros. “O senhor deveria ver as imagens das câmeras”!

O médico terminou de examinar o paciente que desmaiara, aparentemente de exaustão e não por conta do remédio. “Aumentei a quantidade da medicação, ele não deve dar mais problemas”. Mas ele também ficara curioso ao ouvir a enfermeira falar dos malabarismos e contorcionismos do paciente. As amarras deveriam terem-no impedido de se machucar daquela forma.

Riu-se mais uma vez enquanto caminhava pelo corredor… até onde ia a crendice das pessoas. Estava cansado de ver casos atribuídos a problemas espirituais e eram casos neurológicos. Já vira muitos médicos entrando nessas neuras e se tornando fanáticos religiosos. Ele não iria cair nesta armadilha… Jesus Salva! Diziam os crentes… a Ciência Salva… ele pensava consigo mesmo.

Terminou de fazer a ronda. Gostava do período noturno, do silêncio, da calmaria… Apesar de que estava sobrecarregado de trabalho, como todos os médicos deste país que ainda se atreviam a amar a profissão. Depois de andar por quase todo o hospital e ver todos os seus pacientes sentiu fome, foi jantar… Com sorte nenhuma emergência aconteceria e ele conseguiria comer em paz. Nenhum surto psicótico, nenhum paciente precisando dele…

Não era sempre que ele conseguia, mas naquela noite ele conseguiu jantar em paz. Consulto o relógio… estava quase na hora de mais uma ronda… Mas… estava tudo tão quieto. E como uma pulga incômoda o pensamento do vídeo, da filmagem do que tinha acontecido com o paciente durante o surto, estava lá plantado na sua cabeça… Caminhou até a sala das enfermeiras. “Deixa eu ver o vídeo do paciente… Fiquei curioso… como ele pode ter se machucado daquele jeito.” disse ele em tom calmo. Ela se levantou, pegou um molho de chaves e saiu da sala o médico a acompanhou. “Eu já disse ao senhor… Devíamos chamar um padre, um pastor, um rabino, um pai de santo… alguma coisa. Não era humano…” ele deu de ombros.

Os dois entraram na sala, ela procurou um tempo e colocou o vídeo para rodar. Ela não queria ver novamente aquela cena. O que ela vira… e ouvira… já havia sido mais que suficiente. Posicionou-se atrás do monitor observando as feições do médico que a principio refletiam calma e uma leve curiosidade.

Então, assistiu com uma certa satisfação viu as emoções mudarem e passarem como um flash pelo rosto do médico. Primeiro uma certa descrença. Depois os olhos de arregalaram espantados. E a enfermeira viu com clareza o terror se instalarem naqueles olhos. Viu o suor escorrendo pelas têmporas do médico… enquanto ele gaguejava… “Meu Deus, como é que…??? Isso não pode ser… Não é possível… não é…”. “Não é humano…” ele completou. E ele ergueu para ela os olhos aterrorizados.

“Não me leve a mal doutor… eu não sou, nunca fui a pessoa mais religiosa do mundo… mas coisas assim…” disse apontando para as costas do monitor “faz a gente deixar de duvidar da existência do além…” 

O médico ficou mudo por alguns instantes. Não sabia o que dizer. Não sabia o que fazer com o que acabara de ver nas imagens gravadas. Tinha que haver uma explicação racional, uma explicação científica para o que os seus olhos tinham acabado de testemunhar.

A forma como ele se contorcera, amarrado à cama, não era humano, e os olhos revirados… e… ele tinha que convir com a enfermeira, não era para ele estar acordado fazendo tudo aquilo com aquela quantidade de medicação dentro dele. Abriu a boca para falar alguma coisa quando um enfermeiro entrou esbaforido na sala. “O homem acordou de novo… tá gritando que nem… Deus me livre!” Fez o sinal da cruz três vezes… O médico e a enfermeira levantaram apressados e com o coração na boca saíram correndo na direção do quarto do paciente…

Continua numa próxima postagem qualquer…

O menino, a loucura e a possessão…

Ele gritou e gritou e gritou… depois gritou mais um pouco até ficar sem ar. Era a quinta vez na semana que lhe colocava na camisa de força. Me deixem sair… ele gritava. Eu não sou louco! Eu sei o que eu estou dizendo! O enfermeiro alto e forte segurou-o com mais força… ajustou as faixas que o prendiam. A enfermeira loura e gorda retornou com uma seringa. Vai tudo ficar bem… calma agora. Não precisa ficar agitado.

Não, não. não… outra vez um sossega leão na veia… Um sono induzido pelas drogas que não o livravam dos pesadelos horrendos, só o impediam de acordar o que tornava os pesadelos ainda piores.

Anos e anos atrás quando era um adolescente despreocupado… sem jamais imaginar onde seus passos na vida o levariam. Que o trariam a este lugar horrível… Ele se lembrava de uma série de filmes de terror, onde crianças eram atormentados no mundo dos sonhos por um assassino todo queimado. Ele se lembrava de rir daqueles filmes, dos efeitos especiais mal feitos… ele ria de como um por um os jovens iam morrendo pelo filme, e ria dos médicos que não acreditavam neles.

Agora ele estava aqui… neste antro de gente doida, numa situação semelhante. A enfermeira enfiou a agulha em seu braço. Não, não, não… por favor, por favor… não! Ele implorou mais uma vez e mais uma vez foi ignorado. Um… dois… três… quatro… cin…

Boa noite! Disse a enfermeira sarcasticamente. Agora ele deve dar sossego por umas boas horas. O enfermeiro sorriu. Olhando pra cara dele a gente não diz que um rapaz tão magrinho, tão jovem seria capaz de cometer tantas atrocidades. Disse ela saindo do quarto que mais parecia uma cela e trancando a porta. Matou a família toda é? Disse o Enfermeiro alto e sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha. Com uma faca de churrasco. Completou ela. E quando a polícia chegou ao local ele estava todo ensanguentado e gritando… Quem fez isso? Socorro! Mataram minha família.

O enfermeiro arregalou os olhos. A pergunta já na ponta da língua. Mas as câmeras internas de segurança filmaram tudo. E era ele nas imagens… indefensável! Ela repetira a palavra que ouvira de um jurista na TV enquanto analisavam os detalhes grotescos do crime.

Fora um crime de grande repercussão… o filho mais novo, matara a família toda com uma faca de churrasco… Os pais, os avós e as duas irmãs mais velhas. Preso na cena do crime em flagrante, com a arma do crime nas mãos. Depois de um longo tempo fora declarado insano por uma junta de médicos psiquiatras e jogado no manicômio judiciário.

Durante diversos interrogatórios ele afirmara a mesma coisa. Ouvia vozes fazia meses. Vozes demoníacas. Era o diabo… ou algum espírito maligno qualquer. Não se lembrava da noite do crime. Lembrava de ter saído de casa para beber umas cervejas. Para calar as vozes. Não tinha bebido muito… duas latinhas quando… Acordara no meio da sala… a família toda morta ao seu redor, seu corpo todo coberto com o sangue de seus entes queridos.

Você acha que ele é louco mesmo? Tipo… um esquizofrênico, ou… que está mesmo possuído? Perguntou o enfermeiro à colega. Não duvido de nada nesta vida. Já vi tanta coisa estranha. O que eu sei é que ele matou toda aquela gente. Se ele é louco ou se ele estava possuído… isso não me arrisco a dizer. Conhece aquele velho ditado não??? Eu não acredito nas bruxas… mas que elas existem… ahhh existem.

O enfermeiro se benzeu três vezes. Deus me livre. Eu acredito que o mal existe. E quero é distância dele. Por via das dúvidas… vou pedir ao Manuel para trocar de ala comigo. Não quero contato com coisa de capeta. Minha vida já é complicada demais. A enfermeira riu.

O verdadeiro mal deste mundo vive dentro das pessoas meu filho. Você não precisa se preocupar com o mundo espiritual. Tirou um papel do bolso e deu a ele. Você é católico não? Tome, vá ver esse padre… é meu amigo… peça para ele lhe rezar umas missas por proteção e peça uma benção e um vidrinho de água benta e você vai estar protegido.

Ele pegou o endereço e guardou no jaleco. Olhou para ela inquisitivamente. Está me olhando assim porque. Eu sabia que você ia querer. Você tem cara de supersticioso. Você me fala de velhos ditados… disse o enfermeiro para sua colega gorducha. Deve conhecer este então. Maior sucesso do diabo foi fazer com que os homens acreditassem que ele não exite. E se benzeu de novo. E eu vou mesmo ver este padre.

Os dois alcançaram o final do corredor pelo qual caminhavam. Chegaram à estação da enfermagem a tempo de escutarem o grito mais medonho que já haviam escutado em suas vidas vindo do quarto do paciente sobre o qual eles falavam…

Entreolharam-se. Ele devia estar gritando? Estando sedado como está??? Perguntou o enfermeiro??? Ela virou-se… fechou a porta e respondeu: Não…. não deveria.

Fim…

Continua… numa proxima postagem qualquer.